Antes
de ser considerada a festa da ressurreição de Cristo, a Páscoa anunciava o fim
do inverno e a chegada da primavera, no hemisfério norte, representando a “passagem”
de um tempo de trevas para um novo de luz. Assim, a origem desta comemoração
remonta há milhares de anos atrás, comemorada entres os povos europeus, e foi transformando-se
numa das datas comemorativas mais importantes das culturas ocidentais.
O
termo “Páscoa” tem origem religiosa e vem do latim Pascae, embora na Grécia Antiga, também é encontrado como Pashka, porém a sua origem mais remota seja entre os hebreus,
onde aparece o termo Pesachad, com significado de
"passagem", uma transição anunciada pelo equinócio de primavera, que
no hemisfério norte ocorre a 20 ou 21 de março.
Na
região do Mediterrâneo, algumas sociedades, entre elas a grega, festejavam a
passagem do inverno para a primavera, durante o mês de março. Era realizada na
primeira lua cheia da época das flores. Entre os povos da antiguidade, o fim dos
invernos rigorosos, que castigavam a Europa e o começo da primavera era de
extrema importância, representando maiores oportunidades de sobrevivência, diretamente
ligada a maior possibilidade da produção de alimentos.
A
páscoa judaica (em hebraico פסח,
ou seja, passagem) é o nome do sacrifício executado em 14 de Nissan segundo o
calendário judaico e que precede a Festa
dos Pães Ázimos (Chag
haMatzot). Tradicionalmente, nesta data, os judeus fazem e comem o matzá (pão sem
fermento) para lembrar a fuga do Egito, liderados por Moises, após anos de
aprisionamento, por volta de 1250 A.C., quando não havia tempo para a
fermentação do pão.
Entre os cristãos, a data celebra a ressurreição de Jesus
Cristo, quando, três dias após a sua crucificação, o espírito voltou a unir-se
ao corpo. Antigamente o festejo era realizado no domingo seguinte a lua cheia
posterior ao equinócio da Primavera. A semana anterior à Páscoa é considerada
Semana Santa, iniciando no "Domingo de Ramos", que marca a entrada de
Jesus em Jerusalém. O importante é que faz
referência à última ceia de Jesus com os apóstolos, seguida da sua prisão,
julgamento, condenação, crucificação e ressurreição.
A história do coelho da Páscoa
De fato, para entender o significado da
Páscoa cristã, é necessário voltar para a Idade Média e lembrar dos antigos
povos pagãos europeus que, nesta época do ano, homenageavam Ostera ou Esther. (em
inglês, Easter quer dizer Páscoa)
Ostera (ou Ostara) é a Deusa da
Primavera, que segura um ovo em sua mão e observa um coelho, símbolo da
fertilidade, pulando alegremente em seu redor. A deusa e o ovo que carrega, são
símbolos da chegada de uma nova vida. Ostara equivale, na mitologia grega, a Perséfone
e na mitologia romana, a Ceres.
Dessa forma, estes antigos povos pagãos
comemoravam a chegada da primavera decorando ovos. O próprio costume de
decorá-los para dar de presente na Páscoa surgiu na Inglaterra, no século X,
durante o reinado de Eduardo I (900-924), o qual tinha o hábito de banhar ovos
em ouro e ofertá-los para os seus amigos e aliados.
Assim, a figura
do coelho está simbolicamente
relacionada à data comemorativa, porque representa a fertilidade. O coelho se
reproduz rapidamente e em grandes quantidades.
Entre os povos da antiguidade, a
fertilidade era sinônimo de preservação da espécie e melhores condições de
vida, numa época onde o índice de mortalidade era altíssimo. No Egito Antigo,
por exemplo, o coelho representava o nascimento e a esperança de novas vidas. É possível que ele se tenha tornado
símbolo pascal devido ao fato de a Lua determinar a data da Páscoa.
A tradição do coelho da Páscoa foi
trazida à América por imigrantes alemães em meados de 1700. O coelhinho
visitava as crianças, escondendo os ovos coloridos que elas teriam de encontrar
na manhã de Páscoa.
Mas o que parece certo mesmo é que a
origem da imagem do coelho na Páscoa está intimamente ligada a fertilidade que
os coelhos possuem. Pela característica das grandes e frequentes ninhadas, são
vistos como símbolos de renovação e início de uma nova vida.
Por
que o ovo na Páscoa?
O ovo é um destes símbolos que
praticamente explica-se por si mesmo. Ele contém o germe, o fruto da vida, que
representa o nascimento, o renascimento, a renovação e a criação cíclica. De um
modo simples, podemos dizer que é o símbolo da vida.
Os celtas, gregos, egípcios, fenícios,
chineses e muitas outras civilizações acreditavam que o mundo havia nascido de
um ovo. Na maioria das tradições, este “ovo cósmico” aparece depois de um
período de caos.
Na Índia, por exemplo, acredita-se que
uma gansa de nome Hamsa (um espírito considerado o “Sopro
divino”), chocou o ovo cósmico na superfície de águas primordiais e, daí,
dividido em duas partes, o ovo deu origem ao Céu e a Terra – simbolicamente é
possível ver o Céu como a parte leve do ovo, a clara, e a Terra como outra mais
densa, a gema.
O mito do ovo cósmico aparece também nas
tradições chinesas. Antes do surgimento do mundo, quando tudo ainda era caos,
um ovo semelhante ao de galinha se abriu e, de seus elementos pesados, surgiu a
Terra (Yin) e, de sua parte leve e pura, nasceu o céu (Yang).
Para os celtas, o ovo cósmico é
assimilado a um ovo de serpente. Para eles, o ovo contém a representação do
Universo: a gema representa o globo terrestre, a clara o firmamento e a
atmosfera, a casca equivale à esfera celeste e aos astros.
Na tradição cristã, o ovo aparece como
uma renovação periódica da natureza. Trata-se do mito da criação cíclica. Em
muitos países europeus, ainda hoje há a crença de que comer ovos no Domingo de
Páscoa traz saúde e sorte durante todo o resto do ano.
Não sei quanto a vocês, mas na minha
infância, afirmava-se sempre que um ovo posto na Sexta-feira Santa afastaria as
doenças, melhorando a saúde de quem o consumisse.
Outros
símbolos da Páscoa
O cordeiro é um dos principais símbolos
de Jesus Cristo, já que é considerado como tendo sido um sacrifício em favor do
seu rebanho. Segundo o Novo Testamento, Jesus Cristo é “sacrificado” durante a
Páscoa. Isso pode ser visto como uma profecia de João Batista, no Evangelho
segundo João no capítulo 1, versículo 29: “Eis o Cordeiro de Deus, Aquele que
tira o pecado do mundo”.
Paulo de Tarso (na primeira epístola a
Coríntio no capítulo 5, versículo 7) diz: “Purificai-vos
do velho fermento, para que sejais massa nova, porque sois pães ázimos,
porquanto Cristo, nossa Páscoa, foi imolado. “
Jesus, desse modo, é tido pelos cristãos
como o Cordeiro de Deus (em latim: Agnus Dei) que supostamente fora imolado
para salvação e libertação de todos do pecado. Para isso, Deus teria designado
sua morte exatamente no dia da Páscoa judaica para criar o paralelo entre a
aliança antiga, no sangue do cordeiro imolado, e a simbologia da nova aliança,
no sangue do próprio Jesus imolado.
A Cruz também é tida como um símbolo
pascal. Ela mistifica todo o significado da Páscoa, na ressurreição e também no
sofrimento de Jesus. No Concílio de Nicéa em 325 d.C, o imperador romano Constantino
decretou a cruz como símbolo oficial do cristianismo, transformando-a também num
símbolo da Páscoa, e no símbolo primordial da fé católica.
O pão e o vinho simbolizam a vida
eterna, o corpo e o sangue de Jesus, oferecido aos seus discípulos, na Última Ceia,
conforme é descrito no capítulo 26 do Evangelho segundo Mateus, nos versículos
26 a 28: “Durante a refeição, Jesus tomou
o pão, benzeu-o, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai e comei, isto
é meu corpo. Tomou depois o cálice, rendeu graças e deu-lho, dizendo: Bebei
dele todos, porque isto é meu sangue, o sangue da Nova Aliança, derramado por
muitos homens em remissão dos pecados. “
Explicando
por que a celebração da Páscoa não tem data fixa
O dia da Páscoa é o primeiro domingo
depois da Lua Cheia que ocorre no dia ou depois de 21 março (a data do
equinócio). Entretanto, a data da Lua Cheia não é a real, mas a definida nas
Tabelas Eclesiásticas. (A igreja católica, para obter consistência na data da
Páscoa decidiu, no Concílio de Nicéa em 325 d.C, definir a Páscoa relacionada a
uma Lua imaginária – conhecida como a “lua eclesiástica”). Assim, Quarta-Feira
de Cinzas ocorre 46 dias antes da Páscoa, esse é o período da quaresma.
Com esta definição, a data da Páscoa
pode ser determinada sem grande conhecimento astronômico. Mas a sequência de
datas varia de ano para ano, sendo no mínimo em 22 de março e no máximo em 24
de abril, transformando a Páscoa numa festa “móvel”.
A Páscoa para
algumas tradições Umbandistas
Em muitos
Terreiros de Umbanda dá-se o início
das comemorações da Semana
Santa na quarta-feira
com o fim da quaresma, muito
antes do cristianismo o povo africano já respeitava a quaresma, porém com um significado diferente dos fatos
relacionados a vida de Jesus
Cristo. Enquanto os cristãos celebram
a morte e a ressurreição de Cristo, os africanos celebram o Lorogun, período em que os Orixás entram em guerra contra o mal,
para trazer o pão de cada dia para seus filhos.
A guerra dos Orixás na
quaresma
Na quarta-feira de cinzas os Orixás da casa devem
ser vestidos e cada filho de santo oferece a eles suas comidas preferidas, os
atabaques são recolhidos, depois de serem lavados com ervas, somente sendo
acordados no "Sábado de
Aleluia", sendo esta a forma de fortalecer os atabaques do
terreiro. Os Orixás estão em guerra!
Lorogun – rituais da Umbanda
na Semana Santa
Na noite de quinta para a Sexta-feira da Paixão, os seguidores
da Umbanda devem se
proteger, usando seus contra-eguns, pois nesse dia Iansã está em guerra e não
pode conter os eguns que nos rodeiam.
Na Sexta-feira
da Paixão, são oferecidos pratos a Oxalá, em busca de paz e prosperidade,
tanto para o Terreiro, quanto
para os seus filhos e fiéis. No Sábado de Aleluia, Ogum, guerreiro maior do panteão africano,
faz a distribuição de pães, representando a vitória na guerra pela paz. É o fim
da guerra dos Orixás.
A criação do mundo na
Umbanda
Na Umbanda, a Semana Santa representa a
criação do mundo, por este motivo, neste período seus seguidores devem
vestir-se de branco, principalmente na Sexta-feira da Paixão, neste o dia, os Orixás descem do Orún (o
mundo dos espíritos) para conhecerem a grande criação de Olorum. Durante a Semana Santa os fiéis
Umbandistas devem alimentar-se com comidas brancas, como canjica, arroz, arroz
doce, acaçás e pães. Devem evitar a ingestão de qualquer tipo de carne, assim
como não devem ingerir bebidas alcoólicas, especialmente na Sexta-feira da Paixão.
Mensagem
Final
Portanto, a Páscoa representa mais uma
data marcante do calendário, para que se possa reafirmar conceitos e corrigir
rotas, mas também é um rito de povos antigos, que pressupõe uma “passagem” de um
tempo ruim para um melhor, simbolizado na perspectiva de preservação da vida. Com
o passar do tempo a veneração à natureza planetária foi sendo substituída por
figuras mitológicas e/ou religiosas, embora mantendo a sua significação.
Por ter uma Fé cristã, reconheço a existência
de Jesus Cristo, o homem que veio ao mundo disposto a ser o maior exemplo de
amor e humildade que a humanidade conheceria, trazendo uma proposta de vida que
não foi entendida por muitos, sintetizada na frase “Ama o próximo como a ti
mesmo! Até os dias de hoje, essa afirmativa continua letra morta, sendo
repetida mas não vivenciada.
Assim, diariamente condenamos este homem
e o crucificamos, da mesma forma que os antigos romanos, ao ignorar os seus
propósitos de viver num mundo melhor, mais justo, fraterno e igualitário. Que
tal aproveitar a Páscoa para lembrar do triunfo do espiritual sobre o material,
a ressurreição do espírito e a vida eterna!
Cristo
morreu, mas ressuscitou e fez isso somente para nos ensinar a eliminar os
nossos piores defeitos e ressuscitar as maiores virtudes do íntimo de nossos
corações. Que a sua Páscoa seja também, uma ressurreição.
Ressurreição
da paz, do amor, da fraternidade, da alegria de viver...
Ressurreição
da amizade, da igualdade, da justiça e do desejo de ser feliz...
Ressurreição
dos sonhos, das memórias, das lembranças e, principalmente, da verdade que está
acima do apelo comercial dos ovos de chocolate e dos coelhinhos.
Que
sua Semana Santa seja cheia de paz, amor, caridade e felicidade e que Oxalá, o
Orixá maior da Umbanda, sincretizado com Jesus Cristo, derrame as suas bênçãos sobre
você, sua família e amigos e que seja assim para sempre na sua vida!
Feliz
Páscoa!
Com
informações disponíveis no blog http://ceticismo.net/religiao/a-verdadeira-historia-da-pascoa/,
acesso em 04/04/2015.
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